Uma análise ornitológica revela que a agressividade da fêmea de periquito australiano (Melopsittacus undulatus) em relação ao macho perto do ninho é um comportamento instintivo e multifacetado, impulsionado principalmente por flutuações hormonais, distribuição de tarefas reprodutivas e a necessidade de garantir a segurança do futuro local de postura.
Para um observador atento, pode parecer um comportamento contraditório: no momento em que a cooperação do casal é crucial para o sucesso reprodutivo, a fêmea se torna territorial e afasta o parceiro do ninho que ela está meticulosamente preparando. No entanto, do ponto de vista da biologia da espécie, essa atitude é perfeitamente lógica e essencial.
A principal força por trás dessa mudança comportamental reside nas alterações hormonais que a fêmea experimenta durante o período de reprodução. A iminência da postura de ovos desencadeia um aumento significativo nos níveis de hormônios como o estrogênio e a progesterona. Estes hormônios não só preparam o sistema reprodutivo da ave, mas também influenciam diretamente o seu comportamento, intensificando seus instintos de proteção e territorialidade.
É a fêmea a principal responsável pela escolha e preparação do ninho. Em seu habitat natural na Austrália, os periquitos nidificam em cavidades de árvores. Em cativeiro, essa tarefa se traduz na inspeção e arrumação da caixa-ninho. Durante essa fase, a fêmea pode se tornar extremamente possessiva com o local escolhido, considerando-o seu domínio exclusivo. A aproximação do macho, por mais bem-intencionada que seja, pode ser interpretada como uma invasão ou uma ameaça potencial à integridade do ninho.
Essa agressividade serve a um propósito evolutivo fundamental: a proteção da prole. Ao manter o macho à distância, a fêmea garante que o ninho não será perturbado. Embora o macho desempenhe um papel vital no cortejo e, posteriormente, na alimentação da fêmea e dos filhotes, sua presença constante dentro ou muito perto da cavidade do ninho antes da postura dos ovos não é necessária e pode até ser prejudicial. A fêmea, em seu estado hormonalmente sensível, prioriza a segurança e a estabilidade do ambiente onde depositará seus ovos.
O papel do macho durante esta fase é, em grande parte, o de cortejar a fêmea e fornecer-lhe alimento. Através de um ritual de regurgitação, o macho alimenta a fêmea, garantindo que ela tenha os nutrientes necessários para a produção dos ovos. Este comportamento de alimentação também fortalece o vínculo do casal e demonstra a capacidade do macho de ser um bom provedor para a futura família.
Portanto, quando uma fêmea de periquito australiano impede o macho de se aproximar do ninho em preparação, ela não está rejeitando o parceiro, mas sim desempenhando um papel crucial ditado por seus instintos mais profundos. Este comportamento é um indicativo de que o ciclo reprodutivo está progredindo normalmente e que a fêmea está se preparando diligentemente para a importante tarefa da maternidade. A agressividade tende a diminuir após a postura dos ovos, quando a cooperação do macho na alimentação se tornará mais bem-vinda e essencial.

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