Na Sibéria, onde o inverno rigoroso chega a registrar temperaturas de até 40 °C negativos, métodos convencionais de pesca ficam praticamente inviáveis. Com rios e lagos inteiramente cobertos por camadas espessas de gelo, moradores recorrem a ferramentas como marretas ou picaretas para quebrar o gelo. Ao abrir buracos profundos o suficiente, eles ganham acesso à água, onde é possível pescar sem vara ou anzol, aproveitando swipes ou redes improvisadas, conforme a prática local.
O sucesso dessa pesca de inverno depende bastante das condições ambientais sob o gelo. A água congelada dificulta a entrada de oxigênio, especialmente quando há neve cobrindo o gelo, bloqueando a luz solar que normalmente alimentaria algas ou plantas aquáticas. Peixes, então, tendem a ficar mais imóveis, mover-se menos ou buscar camadas de água mais rente ao gelo ou perto de suas aberturas — e isso torna sua captura mais fácil para quem souber onde abrir os buracos.
O pescado extraído nesses momentos não serve apenas à subsistência familiar: em muitos casos, vira também mercadoria nas feiras locais ou mercados das regiões geladas. As comunidades dependem disso como parte de sua dieta essencial, especialmente quando outras fontes de alimento ficam inacessíveis devido ao frio extremo ou isolamento geográfico. Além disso, há normas locais que regulam tamanhos mínimos de captura e métodos permitidos, para evitar a sobrepesca durante o inverno.
Testemunhos de pescadores da Sibéria
Na região de Yakutia, os moradores relatam que o clima tem mudado e isso afeta diretamente a pesca de inverno. As cheias agora ocorrem em épocas diferentes, o gelo demora mais para se formar completamente e se rompe mais cedo na primavera, reduzindo o tempo seguro para pescar sob o gelo. Muitos pescadores afirmam que alguns peixes estão mais difíceis de capturar e que espécies que antes se viam sob a água agora se refugiam no fundo, onde há menos luz e oxigênio.
Em lagos sob gelo, os níveis de oxigênio dissolvido caem conforme o inverno avança: no início da estação, pode haver cerca de 8 a 12 partes por milhão próximos à superfície, mas nas camadas mais profundas esse valor pode cair quase a zero, especialmente quando a decomposição de matéria orgânica consome o oxigênio disponível. Nas bases pesqueiras do norte siberiano, as redes de imersão são verificadas duas vezes ao dia durante o inverno, capturando principalmente peixes brancos, lúcios, percas, graylings e burbots. Após a captura, os peixes são mantidos congelados em câmaras naturais de permafrost até o transporte para os mercados.
Em comunidades isoladas, a pesca no gelo é uma das poucas fontes de alimento durante o inverno. O trabalho é árduo e perigoso, exigindo resistência ao frio extremo e conhecimento preciso dos pontos de pesca. Além de garantir a sobrevivência das famílias, essa prática mantém vivas tradições seculares, passadas de geração em geração, que unem o homem e a natureza nas paisagens congeladas da Sibéria.

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